
Jadsa lança seu segundo disco, big buraco
A artista baiana Jadsa apresenta big buraco, a sequência de sua renomada estreia em uma nova voz: a de sua canção popular.
Em sete dias, no estúdio Wolf, Rio de Janeiro, Jadsa se reuniu com o produtor Antonio Neves, apresentou as canções para um time de músicos nas vésperas, e realizou, quase de improviso, a sequência para um dos álbuns mais aclamados dos últimos anos. “Esse modo de fazer foi uma escolha”, explica Jadsa. Em direção particular a um cancioneiro mais popular, a artista amplia os caminhos de sua composição para apresentar sua própria brasilidade moderna: “Eu queria essa cor. O teclado, bateria e baixo na cara, o sonho de ter sopros nas minhas faixas. Elis Regina de 71, as canções populares brasileiras dos anos 2000 e algo dos 90. Scratches”, pontua.
Mesmo assim foi cair num buraco sem saber o que tinha lá dentro. As faixas eram ouvidas uma vez, as ideias de arranjo passadas com sons de boca e gestos táteis para serem resolvidas em poucas horas de gravação de cada músico. É o que apresentam os primeiros versos do trabalho, com a introdutória “big bang”. Eles dão o tom de crença da artista, e mais ainda, ilustram uma realidade material do fazer música no país: “As coisas acontecem quando querem / E quando crescem todo mundo vê / Não o caminho traçado a navalha / Mas o tamanho do bicho que é // Eu quero ser o que rolar pra mim / Quero, de querer, de estar a fim / Fazendo o certo independentemente”.
big buraco apresenta “um universo que é glorioso e fantasioso, o mar, as frutas todas e o amor de mãe”, em um amontoado de canções que celebram as próprias ideias composicionais de Jadsa com a liberdade e segurança de uma artista com mais de dez anos de carreira. Sem uma estrutura tortuosa de seu trabalho anterior, Jadsa apresenta sua força pela nítida fé de que sua canção bastará.
BIG BURACO É BOCA EM MOVIMENTO
Há, sobretudo, um contraste muito evidente entre seu disco de estreia e seu sucessor. Neste novo capítulo, Jadsa remonta grandes cantoras e intérpretes da música brasileira ao se relacionar muito mais diretamente com a MPB, o neo-soul brasileiro, os sambas Rio-Bahia, o reggae e até blues. Mas também tem o scratch dos beats de Hip-Hop que, junto ao seu silabismo ritmado e as imagens construídas pelas suas letras afetuosas constroem uma obra muito própria e calorosa, que mesmo pop, retém em sua estrutura, o jeito, o corpo, a boca de Jadsa.
Suas condições de gravação poderiam dar ao disco grandes espaços de improviso, ares de liberdade, esses que são, inclusive, alcançados em Olho de Vidro (2021 – Natura Musical/Balaclava Records). Mas, apesar da velocidade prática de um fazer música que remonta histórias marcantes da música brasileira, o trabalho não parece soar, em segundo algum, montado às pressas. São arranjos de sopros precisos, efeitos cuidadosamente posicionados, e uma banda com corpo e vigor à altura de composições de estrutura popular – aquelas para tocar no rádio e presentear nossas mães.
Jadsa, para isso, remonta uma outra voz, que se sua imagem fosse reduzida apenas ao que apresentou em Olho de Vidro, essa voz parecia não estar ali. O novo rumo teve “Sol na Pele” como definidora. A canção, que foi gravada à parte, em um processo anterior, trouxe à Jadsa o desejo de ser diferente. “Eu tenho várias vozes dentro de mim. Como vou falar de Itamar Assumpção sem prestar atenção nas sílabas? No big buraco, se estou falando de vida, de amor, eu precisava cantar. Senti a necessidade de ser inteira na canção”, comenta a artista.
Essa nova voz, que sempre esteve ali, permite um outro acesso ao trabalho dela, já que apresenta canções mais diretas e populares. “Eu sentia muita falta de uma referência um pouco menos densa, mais fácil para mim mesma”, comenta. É um contraste muito evidente com seu disco de estreia, esse que a coloca, sobretudo, como uma diretora musical, compositora e musicista. Em big buraco, sem deixar para trás o que já foi apresentado, Jadsa se firma como cantora, intérprete de sua própria canção.
Isso fica evidente no processo de repaginação e reapresentação que a artista faz de faixas ou ideias já apresentadas em outros trabalhos, principalmente, na sua parceria de longa vida com o multiartista e produtor João Milet Meirelles, mais evidenciada pelo projeto em conjunto, TAXIDERMIA. São títulos já conhecidos em sua discografia, mas que aparecem em seu novo trabalho, como “tremedêra”, “no pain” e “1000 sensations”. A descoberta, entretanto, é de que foram completamente vertidas pelas experimentações do duo em suas primeiras aparições. Se deparar com essas ideias, agora em inteirezas como canções, é ter breve vislumbre de seus processos criativos, como espectadores de uma produção que se transforma em tempo visível.
Segundo a artista, o processo da TAXIDERMIA abre caminhos: “Eu consigo pensar para além do que eu já pensei. Eu tento fazer isso na minha obra, ser uma grande rede. Eu acredito muito nessa possibilidade de fazer arte: pegar o que eu já fiz e eu mesma me confundir, confundir as pessoas. Nessa confusão a gente se encontrar em outro lugar”. Jadsa demonstra em big buraco, nesse sentido, que “há diferentes maneiras de sua composição existir, e ela as apresenta à sua forma, simplesmente porque é dela”, pontua Maíra, sua produtora que acompanha de perto todo seu processo artístico.
BIG BURACO É FLERTE
O que está sendo dito é mesmo o que ela quer dizer? Ela de fato o diz, ou é você que quer que ela o diga? A ambiguidade, que começa no próprio título do trabalho, abre à interpretação um escracho e deboche que permeia todo o disco. Ao passo que a artista apresenta um cenário solar de amor e de vida envernizado pelo samba, e uma brasilidade estética quase mágica pela força da palavra e instrumentação, tudo está dentro de um grande buraco. Esse espaço gigante em que se encontra o país, a indústria musical, o corpo artístico brasileiro.
Há belezas diversas e uma pulsão criativa viva, mas um desconforto que é ilustrado na última canção e faixa-título, um “monstro” com o qual é preciso conviver: “Big descaso / Big desdém / Big escarro / Big saco / Big susto! / Big big fuzil / Big Brazil / Big rombo (- Esse é o big buraco)”.
É tragicômico, já que a trajetória até o encerramento é de leveza e de um positivo que até se distancia de algumas de suas outras obras. Um espanto em perceber que talvez, toda essa alegria brasileira fosse mais resistência, teimosia e persistência do que alegria pura e simples. Como uma artista dá continuidade a um trabalho depois de ter uma obra tão relevante como sua estreia? Mascarada por essa nova persona, uma cantora e intérprete das boas coisas da vida, Jadsa dança conforme essa pressão de mercado pede, mas vai dizer algumas coisas nas beiradas de nossos ouvidos.
“O disco me levou a estar num lugar confortável e desconfortável ao mesmo tempo. Muito pelo mercado. Isso do precisar fazer agora. Os artistas estão fazendo sem condições de fazer, mas com o desejo engarguelando. Sem dinheiro, sem tempo, sem condição material. E essa coisa sintomática do mercado de querer matar um disco que tem dois, três anos de vida – o que é nada, inclusive. Então pensei: se me tiram o olho de vidro, o que é que resta? Me resta um grande buraco”, diz.
Para quem não se contentava com seu olho de vidro, Jadsa o recolhe, e evidencia esse nosso buraco imenso, onde coloca absolutamente tudo o que der. Faz da própria vida uma trama à serviço de sua música, como a nascença no teatro a habilita. Encena um próprio palco, hasteia suas cortinas e, cuidadosamente, interpreta suas personas. Desenha personagens com tranquilidade de gente grande. Canta sorridente, como de costume.
Release por Pedro Antunes de Paula
sobre Jadsa
Jadsa é baiana de Salvador, cantora, compositora, guitarrista, produtora e diretora musical. Iniciou sua carreira profissional colaborando com trilhas sonoras para o Teatro Vila Velha, em Salvador – BA. Suas principais referências artísticas passeiam pela MPB, samba, rock, trip hop, reggae e neo-soul. Debutou seu trabalho autoral em 2015, lançando o EP Godê. Já com seu primeiro álbum, Olho de Vidro, lançado em março de 2021, Jadsa recebeu duas indicações ao Prêmio Multishow, nas categorias “artista revelação” e “álbum do ano”. No mesmo ano, foi apontada pela CNN Brasil como uma das mulheres que mudou a cara da música brasileira.
Paralelamente à sua carreira solo, Jadsa é parte do TAXIDERMIA, duo de música eletrônica experimental formado por ela e João Milet Meirelles, no qual é cantora, produtora e diretora musical. Juntos enquanto banda desde 2020, lançaram dois EP’s: “TAXIDERMIA Vol. 1” (2020) – que lhes proporcionou a indicação ao Prêmio APCA 2020 na categoria “artista revelação” – e “OUTRO VOLUME” (2021).
Além de seus lançamentos, a artista assina, entre outros trabalhos, a composição da faixa “Um Choro”, do “EPDEB”, lançado em 2022 por Juçara Marçal; e a produção musical de “Empírica”, quarta faixa de “Sal”, disco de Anelis Assumpção, vencedor do Prêmio APCA 2022 na categoria “Melhor Produção”.
siga @jadsaaa
big buraco | Jadsa
Produzido por Jadsa e Antônio Neves. Co-produção por João Milet Meirelles
- big bang (Jadsa)
- tremedêra (Jadsa)
- sol na pele (Antonio Neves/Jadsa)
- mel na boca (Jadsa)
- big luv (Jadsa/Maíra Morena)
- no pain (Jadsa)
- 1000 sensations (Jadsa/Maíra Morena)
- big mama (Jadsa)
- your sunshine (Antonio Neves)
- um choro (Jadsa)
- samba pra Juçara (Jadsa/ Juçara Castro)
- big buraco (Jadsa)
lançamento: selo RISCO (2025) @selorisco
distribuição: Altafonte @altafontebrasil
Com informações: FRANCINE RAMOS ASSESSORIA DE IMPRENSA