Áurea Martins e Cristovão Bastos lançam álbum Amizade
Amizade que começou no subúrbio carioca e seguiu pelos bailes e palcos da vida, agora eternizada em disco de voz e piano. Entre clássicos, canções inéditas e registros pouco conhecidos do grande público, o repertório apresenta músicas como ‘Fale baixinho’ (Portinho/Heitor Carrillo), ‘Outra vez, nunca mais’ (Sueli Costa e Abel Silva), ‘Meus guardados’ (Cristovão Bastos/ Roberto Didio).
Dialogando com as novas gerações, participam especialmente Miguel Rabello em ‘Com você’ e Gabriel Cavalcante em ‘Voz de samba’. E a produção musical do disco foi assinada por Roberto Didio e Miguel Rabello.
Gravado no estúdio Casa do Choro – Auditório Radamés Gnattali, em março, abril e maio de 2025; direção musical e arranjos de Cristovão Bastos; Engenharia de gravação, mixagem, masterização de Alexandre Hang. O projeto gráfico é de Flávia Tonelli, fotos de Tyno Cruz e texto de apresentação do jornalista, pesquisador, crítico musical e escritor Hugo Sukman.
O álbum ‘Amizade ‘ de Áurea Martins e Cristovão Bastos é um lançamento do selo Garapa e chega às plataformas de música em 14 de novembro, distribuição digital pela Tratore. Dois shows de lançamento acontecem dias 12 e 13 de novembro no Rio de Janeiro, Auditório Radamés Gnattali – Casa do Choro, participações especiais: Miguel Rabello e Daniela Spielmann.
O repertório do disco e do show: ‘Noite de lua‘(Cristovão Bastos/Roque Ferreira), ‘Com você‘ (Miguel Rabello/Roberto Didio), ‘Doce de coco‘ (Jacob do Bandolim/Hermínio Bello de Carvalho), ‘Neste mesmo lugar‘ (Armando Cavalcanti e Klécius Caldas), ‘Todo o sentimento‘ (Cristovão Bastos/Chico Buarque), ‘Vem hoje’ (Moacyr Silva/Antônio Maria), ‘Voz de samba’ (Cristovão Bastos/Roberto Didio).
Boa travessia, ouçam!
Amizade, por Hugo Sukman
Há momentos em que o tempo é suspenso (e o espaço não importa). Quando o trem parte para Paris, só um, o outro ficou na plataforma (e o ouvido em Ravel, Debussy também parece flutuar no trilho; chorar na estação). Ou quando a voz, no ouvido, fala baixinho: “te quero bem”. Quando há luar no céu, canções no mar e alguém que virá, talvez. Ou não virá e se implora, mesmo longe: repensa em nós dois. Mas quando a porta abre, ele ao lado de outra passa, sem olhar (aí no ouvido o tempo volta, a outra é você e a canção também, outra; não importa o tempo, ele está suspenso, lembra?). Quando o garçom serve um sonho, gim; e a lua ilumina o céu, gim. Porque é preciso não dormir até se consumar o tempo que refaz o que desfez. É quando no bar o piano inicia a sessão. E a noite abre seus portais (e as mãos se encontram; aquele trem nunca partiu).
Há momentos em que o tempo é suspenso. Como quando uma voz e um piano, depois de tantos desencontros na noite, resolvem se juntar. E quando a negra voz de luz dourada craveja versos de samba sobre o chão da madrugada.
Há momentos em que o tempo é suspenso (e o espaço de fato não importa): quando a voz de Áurea Martins e o piano de Cristovão Bastos se encontram (na rua da Carioca, Centro da cidade, Casa do Choro) para estas sessões de gravação, ela senhora na idade e de seu instrumento, ele também, mestre do piano e nos cabelos prateados; mas que poderia ser lá longe, no tempo dos cabelos pretos, os dois meninos não no Centro, mas em Realengo, de onde vieram, numa casa de alguém que não se lembram, onde primeiro voz e instrumento se encontraram.
Há momentos em que o tempo é suspenso e já não importa se o samba-canção é de agora, como “Meus guardados”, de Cristovão e Roberto Didio, a história do tal amor impressionista que parte para Paris em Ravel e Debussy, e que Áurea cria com sua voz de 85 anos tão cheia de nuances; ou se o samba-canção é de tanto tempo atrás e foi criado por Elza Laranjeira, cantora também da noite e que hoje pouca gente lembra (mas Áurea lembra e representa), um “Fale baixinho” do verso e do recado que suspende o tempo: “Te quero bem”. Ou se o samba-canção foi criado pela famosa Elizeth Cardoso, madrinha de Áurea, “Vem hoje”, a melodia de um dos grandes amores da Divina, o saxofonista Moacyr Silva, a letra de Antônio Maria de versos sobre versos, “Em cada verso meu/Eu procurei o teu caminho/E cada verso meu foi como um grito/Chamou teu nome sem ninguém saber”.
Há momentos em que o tempo é suspenso como quando Áurea e Cristovão recriam dois clássicos, clássicos eles próprios suspensos no tempo: “Doce de coco”, velho choro de Jacob do Bandolim cuja a letra posterior de Herminio Bello de Carvalho transformou em canção de amor desesperada (“Venho implorar/Pra você repensar em nós dois..”); ou o samba-canção dos sambas-canções, “Neste mesmo lugar”, que “por uma ironia cruel” é ambientado na noite em que “ele passa por mim sem olhar”, ao lado de outra, e outro pianista, outra cantora, começam a cantar “um samba canção de Noel que viu nosso amor começar”, como se o tempo de fato não existisse (e não existe mesmo quando ele é suspenso pela noite, pela canção, pelo mesmo garçom que se aproxima).
Há momentos em que o tempo é suspenso e um samba-canção de Cristovão Bastos e Roque Ferreira nasce já com pinta de clássico, chamado simplesmente de “Noite de lua”, em que a lua é gim, o sonho é gim, e o homem oferece o luar e o sonhar à sua amada como se fosse um barman preparando o drinque, numa metáfora de boate de deixar o Maria e o Klécius Caldas tontos (como que de gim). Ou que Áurea e Cristovão, no auge da maturidade, recriam o grande samba-canção do nosso tempo, o instant classic de Cristovão e Chico Buarque, o “Todo o sentimento” que parece de fato contê-lo todo, o sentimento.
Há momentos em que o tempo é suspenso e, como se fosse um velho samba-canção, Áurea e Cristovão redescobrem um escondido clássico contemporâneo, “Outra vez, nunca mais”, uma preciosidade de Sueli Costa e Abel Silva que merece a eternidade das boates em que é ambientado, onde “o piano inicia a sessão/como um filme que vai começar”.
Há no entanto momentos em que o tempo de fato é suspenso, e que o filho compositor de Cristovão, Miguel Rabello, também produtor do disco ao lado do letrista Roberto Didio, compõe uma canção tão no espírito atemporal das canções do pai e dos outros compositores que é como se o próprio tempo suspenso houvesse composto “Com você”. Só que ao contrário de todas as outras canções, e aí está sua delicada inovação, um violão todo novo e uma voz toda nova invadem o velho piano, a velha voz. E o amor, depois de tanta dúvida e sofrimento expresso nas canções consegue até tirar o tempo da suspensão da boate e da canção e apontá-lo para algo como o futuro: “No fim da noite ele é/A grande transformação/Na ponte de Oxumarê/Nas manhãs que virão/Porque seguirei, meu amor, com você”.
Há momentos em que o tempo é suspenso e que Áurea Martins nos seus 85 anos recebe para um dueto Gabriel Cavalcante em seus trinta e poucos. “Voz do samba”, o samba sobre samba e sobre voz de Cristovão Bastos e Roberto Didio, junta a voz de Áurea com a voz de um de seus filhos musicais, Gabriel, mais conhecido como a voz do Samba do Trabalhador e de outras rodas de samba da cidade e do país. Como quem está de fato suspenso no tempo – Cristovão compondo com parceiro mais novo; Áurea cantando com cantor mais novo – o que parece se mostrar aqui ao final da sessão (ou da noite) é que os velhos sambas-canções sempre foram modernos, como quando compostos, e que os novos sambas e canções continuam modernos quando revisitam essa tradição. Ou, como resume “A voz do samba”: “Samba/Tua voz iluminada/Ofuscou meu desencanto/Clareou a minha estrada”. Como que suspenso no tempo, sempre que uma voz acompanhada de um piano é lançada no espaço.
………… Hugo Sukman, setembro de 2025
Disco ‘Amizade’
Canções e compositores
- Meus guardados(Cristovão Bastos e Roberto Didio)
- Fale baixinho(Portinho e Heitor Carillo)
- Vem hoje(Moacyr Silva e Antônio Maria)
- Doce de coco(Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho)
- Neste mesmo lugar(Armando Cavalcanti e Klécius Caldas)
- Noite de lua(Cristovão Bastos e Roque Ferreira)
- Todo o sentimento(Cristovão Bastos e Chico Buarque)
- Outra vez, nunca mais(Sueli Costa e Abel Silva)
- Com você(Miguel Rabello e Roberto Didio) | Participação especial Miguel Rabello
- Voz de samba(Cristovão Bastos e Roberto Didio) | Participação especial Gabriel Cavalcante
Ficha técnica
Áurea Martins – voz
Cristovão Bastos – piano
Miguel Rabello – violão – fx. 10
Participação especial
Miguel Rabello – violão e voz – fx. 9
Gabriel Cavalcante – voz – fx. 10
*
Direção musical, arranjos: Cristovão Bastos
Produção musical: Roberto Didio e Miguel Rabello
Técnico de gravação, mixagem, masterização: Alexandre Hang
Gravado no estúdio Casa do Choro / Auditório Radamés Gnattali, em março, abril e maio de 2025.
Produção executiva: Garapa Produções
Fotos: Tyno Cruz
Projeto gráfico: Flávia Tonelli
Texto de apresentação: Hugo Sukman
Comunicação e redes: Elfi Kürten Fenske
Selo: Garapa Produções
Distribuição digital: Tratore
Lançamento digital: 14 de novembro/2025
Formato: Digital e físico
Link do pre-save: https://tratore.ffm.to/albumamizade
SERVIÇO | SHOW DE LANÇAMENTO DO DISCO
Espetáculo Amizade
Aurea Martins – voz
Cristovão Bastos – piano
Participação especial
Miguel Rabello – voz e violão (12 e 13)
Daniela Spielmann – sax (13)
Data: 12 e 13 de novembro/2025 | Quarta e Quinta-feira
Horário: 19h00
Local: Casa do Choro – Auditório Radamés Gnattali
Endereço: Rua da Carioca, 38, Rio de Janeiro/RJ | Tel.: (21) 2242-9947
Capacidade: 100 lugares
Acessibilidade: Acesso para portadores de necessidades especiais
Ingressos: R$ 30 (meia-entrada) e R$ 60 (inteira)
Compras online, sympla: 12/11 – aqui | 13/11 – aqui.
Ou Bilheteria aberta 1h antes dos espetáculos
* Casa do Choro: Site / @casadochoro
Projeto na rede: IG @discoamizadepianoevoz – FB @discoamizadepianoevoz
Siga: @aaureamartins / @cristovaobastos
Com informações: Kürten comunicação e redes