Comida de Foguete (BA) lança terceiro EP de trilogia de transição em parceria com Banana Atômica
“III” tem produção do selo de Feira de Santana (BA) Banana Atômica
Numa cidade em quarentena, fábricas continuam produzindo, enquanto pessoas ficam em casa tentando se proteger. E o Comida de Foguete é uma dessas fábricas, quase inquieta, produz música para acalentar (ou seria provocar?) os corações de seus cidadãos. Tudo isso está na capa do terceiro EP assinado por Jéssica Aragão, do projeto de Feira de Santana (BA), encabeçado por PV, lançamento do selo Banana Atômica.
Intitulado “III”, o EP completa a tríade antecipada por “Hypnerotomachia Poliphili” (maio/2020) e “Home Brewing” (junho/2020), para PV eles simbolizam respectivamente o corpo e a mente:
“O III é a revelação da Santíssima Trindade. O primeiro disco é o corpo. O corpo representa a carne que sempre diz sim. O segundo é a mente indomável e confusa, o filho. O III é uma meditação sobre as questões do espírito. Os três são as partes de um mesmo corpo. A maior diferença é na textura, os discos estão soando mais analógicos, o som vai ficando mais real. As pessoas desacostumaram a ouvir o som da fita magnética. Para mim é o melhor formato de áudio que existe”, conta PV.
As cinco músicas que compõem o EP foram gravadas de forma analógica e PV tocou quase todos os instrumentos, menos a bateria em “Unemployment is Freedom”, que tem participação de Elder Silva. Tudo no estúdio que PV tem em casa, portanto todo o processo nasceu respeitando as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a quarentena. Este tipo de gravação traz diferentes camadas ao registro musical:
“A gravação na fita magnética acrescenta algo para equação sonora, ela acrescenta um pouco mais de profundidade no som, melhora a imagem estéreo, deixa os graves mais aveludados, acrescenta distorção harmônica e compressão de um jeito mágico, realmente. Outra vantagem é que a sua mixagem se traduz de maneira mais fiel quando a música é reproduzida em diferentes sistemas. Outro fato interessante é que a distorção do som no domínio digital não é nada agradável ao ouvido humano, então quando trabalhando o áudio dentro do computador, você quer evitar a distorção excessiva o máximo possível, mas o oposto acontece no domínio analógico, onde você não precisa se preocupar tanto com a saturação, pois o som distorce de uma maneira agradável”, explica PV.
Conceito do EP “III”
Para PV, este trabalho marca a transição de um artista fechado em si, partindo de um processo de composição que envolve apenas o experimentalismo e a contemplação, seguindo para um processo de abertura em escolher e desenvolver novos modos de composição.
Não por acaso, PV cita Claude Debussy como uma grande influência em seu trabalho no Comida de Foguete. Debussy foi um músico e compositor francês que viveu no século XIX e era conhecido por subverter as normas da música. Ele criou músicas para orquestras, piano, música de câmara e passou por vários gêneros, ficando célebre dentro do Impressionismo. E por ter influenciado vários nomes da música moderna, como Heitor Villa-Lobos.
“As ideias de Debussy estão sempre comigo, mesmo que os trabalhos não sejam relacionados musicalmente. Ele foi capaz de destronar a teoria musical, removê-la do seu lugar ilegítimo. Só um verdadeiro mestre poderia conhecer tão profundamente todas as leis musicais para poder quebrar com tudo depois. Todo compositor erra, às vezes não há inspiração o suficiente. Debussy é o único que não comete erros”, revela PV.
Em seu terceiro EP, “III”, o Comida de Foguete explora uma meditação sobre as questões do espírito. Temas como a solidão, morte e o exibicionismo aparecem nas letras que levam a uma reflexão mais profunda sobre o momento em que estamos vivendo em meia a pandemia do novo coronavírus.
Por exemplo, em “30 steps to the grave”, em um arranjo minimalista, PV reflete sobre o envelhecimento e sensação de proximidade com a morte, quando canta: “I used to have a friend or two, when I was your age, boy (eu costumava ter um amigo ou dois, quando eu tinha a sua idade – em tradução livre). Na quarta música do EP, “I want coffe” o artista fala sobre o “efeito manada”, ou seja, sobre a tendência geral que temos de imitar as ações dos outros sem questionar direito o que podemos fazer enquanto seres humanos, por isso o verso: “monkey see, monkey do”.
Não mostrar o rosto é uma opção estética do artista, que acredita estarmos vivendo em uma sociedade do espetáculo.
“Tudo hoje em dia tem que ser exibido, televisionado, é quase uma ditadura, uma obsessão da modernidade. Às vezes eu queria projetar uma espécie de antimagem. Um herói sem rosto ou pelo menos um herói do cotidiano. Batman e Superman não são heróis. O herói não é aquele que tudo tem e tudo pode, mas é aquele que luta mesmo não dispondo dos meios necessários. O heroísmo não vive nos feitos grandiosos, mas nas pequenas lutas do cotidiano, que não são nada pequenas quando se observa bem”, comenta PV.
“III” é o terceiro EP do Comida de Foguete. É composto por 5 músicas e foi todo produzido por PV e tem participação do baterista Elder Silva em “Unemployment is freedom” e pode ser ouvido em todas as plataformas digitais, como Youtube, Spotify e Deezer. E é mais um lançamento do selo Banana Atômica.
Mais sobre Comida de Foguete
O projeto Comida de Foguete não tem apenas seu nome instigante, mas também sua sonoridade, ao misturar elementos do rock psicodélico, folk, barroco e até indie pop em faixas curtas, porém impactantes, honestas e reflexivas, que vão agradar e muito fãs de artistas como John Frusciante. “Gosto desse nome porque não é algo que remete diretamente a Música. Podia ser um slogan publicitário”, comenta PV. Criado em Feira de Santana pelo multi-instrumentista e produtor, ex-integrante das bandas Clube de Patifes e Madgalene and the Rock and Roll Explosion. O primeiro álbum do artista, Magik Devilish Childish, foi lançado em 2019.
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Com informações: Favorite Produções