Fafá de Belém lança “Humana”
O projeto “Humana” nasceu porque um grupo de pessoas me trouxe de volta aos estúdios. Eu não gosto de estúdio, acho chato. Gosto de palco, gosto de público. Quando comecei, há mais de quarenta anos, o mercado fonográfico oferecia mais possibilidades. Com o passar dos anos, ele se estreitou demais. Chegou uma hora em que eu tinha uma agenda de shows tão interessante que não via graça em entrar em estúdio para produzir novos trabalhos. Tudo o que a indústria me propunha era requentado e, comigo, requentado nem café!
Um dia, encontrei com o Zé Pedro, falei da música Meu coração é brega e gravamos “Do tamanho certo para o meu sorriso” (2015). Com esse projeto, foi emocionante perceber que ainda havia espaço no mainstream para uma cantora como eu, com quarenta anos de carreira e um jeito próprio, que não se submete e procura sempre se traduzir conforme o que está vivendo.
Em agosto de 2018, comecei a pensar em um novo projeto. O mesmo grupo de amigos queridos por trás do CD e do espetáculo “Do tamanho certo para o meu sorriso”, sem que eu soubesse, sem que a gente se falasse, também. E todos pensávamos na mesma coisa: um álbum introspectivo, que mostrasse o outro lado do sorriso. Para gargalhar e sorrir na vida, a gente precisa olhar para dentro e ter uma base muito forte de relacionamento com o eu interior. Por isso, demos a esse projeto o nome de “Humana”.
Esse álbum que vocês ouvem agora tem muito de mim, mas foi construído a muitas mãos: Paulo Borges, Zé Pedro, Arthur Nogueira, Fabio Buitvidas, Zé Manoel, Allen Alencar, João Deogracias e Richard Ribeiro. Esses profissionais deram corpo e voz a essa mulher livre, introspectiva, que tem uma vida e uma atitude muito próprias, que é destemida e grita seus amores, suas dores e suas dúvidas.
Eu sei que essa mulher é uma mulher brasileira. Saiu muito cedo para a vida e nunca abriu mão de sua dignidade. E vai em frente, e vai à luta, e se joga em tudo o que acredita com sua verdade.
Essa mulher tem uma alegria na alma de sempre ser o que gostaria de ser e carregar suas marcas de lutas, de transposições de barreiras, de quebra de preconceitos com um sorriso nos lábios. Ou, às vezes, com uma gargalhada sonora, para provocar o impacto que a desvia um pouco da porrada que levou.
Essa mulher sou eu e muitas outras mulheres do Brasil.
Humana. Nós somos humanas.
Fafá de Belém, abril de 2019
Texto Arthur Nogueira
Quando o Zé Pedro me contou sobre um novo projeto para a Fafá de Belém, dizendo que ambos gostariam que eu o produzisse, logo imaginei um álbum de fundamento jazzístico, com arranjos criados coletivamente com uma banda fixa, de formação reduzida, abrindo espaço para a improvisação. Segui nessa direção porque, por um lado, sei que Fafá sempre preferiu a espontaneidade do palco à matemática dos estúdios. Por outro, porque sempre me impressionei com o fato de que seu canto, depois de quatro décadas de carreira, permanece versátil e vigoroso.
Apostei que um processo de produção e gravação que considerasse o diálogo e o improviso, com o máximo de execuções ao vivo, deixaria o sentimento e a voz fluírem tranquila e livremente. Foi o que aconteceu. Fizemos apenas dois ensaios e praticamente todas as faixas foram gravadas em no máximo três takes, com pouquíssimas edições e overdubs. Em todas, o canto da ave Fafá voa alto, impressionando a todos pelo viço e emoção que caracterizam alguns dos seus maiores registros fonográficos desde 1975.
Durante a mixagem, eu sorria quando, no meio das trilhas, encontrava suspiros, gargalhadas, respirações profundas, choros baixinhos. Demasiadamente humana, sua emoção conduzia ora com sutileza ora com robustez a banda formada por Zé Manoel, Allen Alencar, João Deogracias e Richard Ribeiro. Convidei-os para acompanhá-la não apenas porque são músicos de excelência técnica, mas sobretudo porque têm muito conhecimento do que se produz hoje em dia no mundo inteiro e podem reconhecer a beleza que se apresenta tanto na harmonia como no caos.
Sem dúvida, temos um resultado muito especial em mãos, que representa mais uma virada rumo ao improvável na carreira de uma mulher profunda e rebelde como as águas dos nossos rios amazônicos. Navego com ela.
Ficha técnica
– Uma produção Joia Moderna dirigida pelo DJ Zé Pedro
– Concepção | Fafá de Belém e Paulo Borges
– Direção Musical | Arthur Nogueira
-Todos os arranjos foram executados e criados em parceria com os músicos Zé Manoel (pianos acústico e elétrico), Allen Alencar (guitarra), João Paulo Deogracias (baixo elétrico e synth) eRichard Ribeiro (bateria e percussão)
-Gravado por Fabio Buitvidas no Estúdio 82 (São Paulo), exceto Revelação, gravada por Habacuque Lima no Trampolim Estúdio (São Paulo)
-Mixado e masterizado por Assis Figueiredo no Estúdio APCE (Belém)
Repertório:
Ave do amor
(Arthur Nogueira / Ava Rocha)
Revelação
(Clésio Ferreira / Clodô Ferreira)
Alinhamento energético
(Letícia Novaes)
O resto do resto
(Fátima Guedes)
Eu sou aquela
(Joyce / Paulo César Pinheiro)
Não queiras saber de mim
(Rui Veloso / Carlos Tê)
O terno e perigoso rosto do amor
(Adriana Calcanhotto / Silviano Santiago / Jacques Prévert)
Dona de castelo
(Jards Macalé / Waly Salomão)
Eu não sou nada teu
(Zé Manoel / Conrado Segreto)
Toda forma de amor
(Lulu Santos)
Assessoria de Imprensa | Fafá de Belém