Luiza Lian lança 7 Estrelas | quem arrancou o céu?

Em seu quarto álbum, Luiza Lian nos conduz rumo a uma saída iluminada para o túnel de espelho em que nos enfiamos neste século

 

Ouça: AQUI

 

 Que timbre é esse? Que instrumento está tocando? O que essas vozes estão dizendo? Pra quem são estes sinos? A bruma densa de ruído sonoro que abre o novo álbum de Luiza Lian logo se dissolve à medida em que uma melodia de lamento mistura-se a uma linha de baixo marcante e beats sincopados para que sua voz surja clara e resplandecente. “A minha música é uma paisagem pra você entrar e fazer sua viagem”, canta com o timbre límpido que contrasta com os sons alienígenas que a cercam. Se sua voz soa clara e cristalina logo no início do disco é para deixar evidente a transformação que assistiremos no decorrer deste novo capítulo.

 

“Minha Música” é nosso primeiro contato com 7 Estrelas | quem arrancou o céu?, quarto álbum da carreira da artista paulistana, o terceiro ao lado do produtor musical Charles Tixier. Quase cinco anos depois do festejado Azul Moderno, os dois voltam para aquele cenário que materializaram antes de um período de trevas que reescreveu a história do Brasil. O novo disco, contudo, já existia antes de cairmos naquele abismo chamado 2020. As tensões que pairavam sobre aquele novo período coincidem com o período em que Luiza e Charles começaram a trabalhar mais próximos. Os dois, que já trabalham juntos há doze anos (Charles foi o baterista da primeira banda de Luiza), estavam em plena produção do segundo álbum da cantora quando esta foi atropelada pela conexão eletrônica que surgiu de uma faísca entre os dois.

 

A primeira canção do novo álbum mostra como essa conexão cresceu. Não foi só uma evolução, mas uma expansão de universo e à medida em que “Minha Música” caminha, percebemos que Luiza não é mais a mesma desde seu último disco. Não que alguém seja, ainda mais depois de tudo que atravessamos neste período. O cenário que vai sendo descortinado no início da canção não é isolado, mas imersivo, e conta com a nossa presença: “Luzes que nela correm são um espelho pra cada um iluminar seu próprio caminho”, E apesar do ritmo e da melodia dar uma certa familiaridade à canção, há uma sombra fantasma que embalsama esta melancólica constatação: “A minha música é uma miragem pra você olhar conforme a sua verdade”, completa a cantora, cuja voz aos poucos vai sendo distorcida por Charles, “luzes que nela correm são um espelho pra cada um iluminar o próprio desterro”.

 

A parceria dos dois começou quando o disco que se tornaria Azul Moderno foi alvejado pela visão tecnológica que o produtor tinha para a sonoridade daquele futuro disco, ainda em 2017, dois anos antes de seu lançamento. Aquela nova abordagem estética, que misturava o apreço de Charles por texturas eletrônicas, técnicas de colagem digital, remixes e trilha sonora de videogame, acendeu uma chama em Luiza em relação às transformações que atravessamos em nossos dias digitais, misturando-se com os questionamentos que levantava no que seria seu segundo álbum. Assim nasceu Oyá Tempo, uma obra que começou conceitualmente como uma performance e que se transmutou em curta metragem, cresceu como um EP que se virou uma mixtape para, finalmente, tornar-se um álbum visual, este sim o segundo da discografia da artista. E ao ser abalroado pela estética do novo álbum, o lado orgânico, clássico e analógico que atravessava a versão original Azul Moderno acabou cedendo àquela pós-modernidade eletrônica, uma espécie de metáfora sonora para o mundo hiperconectado que vivemos.

 

Assim, 7 Estrelas | quem arrancou o céu? conversa mais diretamente com Oyá Tempo do que com Azul Moderno. É um disco a dois, cuja única interferência externa é da cantora Céu, em uma única faixa. Não há mais músicos, participações ou convidados (à exceção dos envolvidos na fase posterior da gravação, de mixagem e masterização) no novo disco de Luiza Lian, é uma colaboração exclusiva dos dois: a visão artística de Luiza, que assina todas as canções e dirige o álbum, com a visão musical de Charles, seu produtor e arranjador.

 

Logo na primeira faixa os dois se misturam em uma só sonoridade à medida em que Charles mescla os timbres artificiais de seu laboratório musical com o timbre natural de Luiza. “Perto demais pra ver seu rosto, claridade não me deixa enxergar”, canta enquanto sua voz vai sendo distorcida digitalmente, “olho meu retrato e não me vejo, queimei meus olhos para ver o sol”. É quando a música sai do lugar familiar e torna-se agressiva, quase marcial, enquanto uma Luiza Lian recriada digitalmente ordena e constata ao mesmo tempo que “todo mundo fake, todo mundo mito, todo mundo morto”. E não só essa vez que a voz distorce a ponto que não a reconheçamos. É a visão estética de Oyá Tempo tornando ainda mais extremos recursos que a cantora e compositora só estava conhecendo no disco anterior – e que agora fazem parte de seu processo criativo.

 

Composto ainda em 2019, 7 Estrelas | quem arrancou o céu? só teve uma alteração de repertório desde sua concepção, quando a faixa “Alumiô” transformou-se num single duplo produzido junto em parceria com a big band paulistana Bixiga 70, lançado na virada de 2019 para 2020, quando Luiza tocou com o grupo em alguns shows. Desde então, suas canções pouco mudaram, mostrando que o clima pesado e pessimista que paira na primeira metade do disco não vem propriamente do período sombrio que ainda estamos atravessando. Na verdade, é justo o contrário: estas trevas recentes tornaram-se ainda mais sombrias a partir da natureza dos dias em que estávamos vivendo mesmo antes de 2020. Quando ela canta “todo mundo fake, todo mundo mito, todo mundo morto” refere-se à artificialidade da vida online e a forma como ela impulsiona esta falta de vida para além do mundo digital. Somos mortos-vivos encarando um espelho luminoso.

 

As faixas seguintes, o trip hop com toque funk brasileiro de “Tecnicolor” (a faixa com Céu) e a sensual “Homenagem”, continuam a explorar este novo horizonte, que nos faz percebê-lo cada vez mais bizarro e dissimulado. Nenhum instrumento é reconhecível e mesmo a voz de Luiza vai sendo manipulada cada vez mais, criando outros duplos do eu como fazemos a partir do nosso uso das mídias digitais, quando misturamos natural com artificial a ponto de não entendermos mais a fronteira entre ambas realidades.

 

Além de empilhar camadas de ruídos e elementos eletrônicos sob sua musicalidade, ela ainda explora a amplitude de seu vocal distorcendo-o digitalmente. As primeiras faixas são só os passos iniciais no novo trabalho: uma reflexão profunda sobre como distorcemos nossas vidas a partir de reflexos falsos que vemos tanto digitalmente no uso que fazemos das redes sociais quanto materialmente em uma sociedade cada vez mais consumista. O novo disco recria este contexto artificial de forma exagerada e metafórica, distorções desmesuradas propositalmente para gerar o estranhamento que deveríamos ter em relação aos valores que prezamos e renegamos a partir dessa realidade de mentira que nos fazem acreditar ser a verdade natureza.

 

E se em Azul Moderno Luiza nos convidava para uma viagem de purificação espiritual, agora ela nos convoca a outra jornada, uma que encara o lado mais sombrio de nossa natureza, em canções que ecoam política e misticismo sem distinguir uma coisa da outra, principalmente na sequência entre as faixas mais contundentes do disco, “Forca” e “Cobras”, que só reforçam o clima de pesadelo da primeira parte do álbum.

 

7 Estrelas | quem arrancou o céu? muda seu tom a partir de “Viajante”, quando ela materializa que sua obra não é apenas uma crônica sobre a época decrépita que vivemos, mas funciona como um caminho para superar o que ela consegue diagnosticar. A partir desta faixa, introspectiva e dançante ao mesmo tempo, ela mescla as duas realidades mostrando uma renascida e reluzente Luiza Lian, longe da fase sombria do início: “Viajante solitário das galáxias de dentro, a cada passo que eu dou fora, eu entro”.

 

A cada novo estágio o disco soa menos plástico e mais pulsante: “Eu Estou Aqui” retoma a poesia falada da autora, levantando questões que soam tão absurdas quanto sem resposta (“Onde é o fim do mundo? Que horas chega o futuro? Qual é a altura desse muro?”), e funciona como um resumo do conceito deste disco. “Morre o homem, fica o drama”, encerra a discussão citando Ataulfo Alves sobre o samba que a música havia se tornado.

 

O disco encerra-se com canções de caráter existencialista mas também renovador (“Desabriga”, “7 Estrelas” e “Deságua”, esta última, um pagodão baiano eletrônico), que tornam o fim deste capítulo artístico mais lúdico e lúcido, brasileiro, latino e pop à medida em que conclui sua reflexão: “Essa dor é tão velha quando ela deságua no mar, desaba, desagua e afunda, mas sai de lá lavada pra me abraçar”.

 

Em 7 Estrelas | quem arrancou o céu? Luiza Lian mostra que estamos mais uma vez repetindo a história, mesmo que mitológica, ao convulsionar dois personagens arquetípicos num mesmo delírio autodestrutivo: todos nós somos uma mistura de Ícaro e Narciso perdem-se na arrogância desta era de espelhos que vivemos e aquela foto pixelada das redes sociais não é nada comparada à nossa profundidade espiritual, artística e, por que não, política. Uma jornada rumo à luz natural que todos carregamos dentro de nós, mas que precisa do expurgo do excesso de informação que a era digital trouxe para todos os aspectos de nossa vida. Crescer para dentro.

 

 *** release acima por Alexandre Matias

 

 

Ficha Técnica

 

Todas as faixas por Luiza Lian e Charles Tixier, exceto faixa 02 (Tecnicolor) com participação de Céu (voz).

 

Direção artística: Luiza Lian

Composições: Luiza Lian e Charles Tixier

Produção, Direção musical e arranjos: Charles Tixier

Mixagem: Gui Jesus Toledo e Charles Tixier

Masterização: Vlado Meller

Produção Executiva: João Bagdadi (Mantura Estratégia Cultural)

Identidade Visual: Maria Cau Levy

Capa: Maria Cau Levy em foto de Larissa Zaidan

Comunicação e Estratégia: Mantura Estratégia Cultural

Ass. de Imprensa: Francine Ramos

Lançamento: selo RISCO (Brasil)  e ZZK Records (Internacional)

 

Fotografia Capa

 

Direção Criativa: Luiza Lian

Foto: Larissa Zaidan

Assistente de fotografia: Ênio Cesar e Rafael Mattar

Direção de Arte: Karla Salvoni

Assistente de arte: Nicoli Cahali

Contra Regra: Caio monteiro

Figurino: Ateliê Vivo| Carolina Cherubini, Dea Guerra, Flávia Lobo de Felicio e Gabriela Cherubini

Beleza Leon Gurfein

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com informações: Assessoria de Imprensa Francine Ramos

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