
Roberto de Carvalho: relançamento de disco solo de 1992 tem gosto de primeira vez
Álbum, lançado em período político e econômico conturbado no Brasil, não estava nas plataformas
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“Você é meu oxigênio/ Meu kharma, meu Dharma, meu prêmio”. É com essa frase que Roberto de Carvalho abre seu autointitulado álbum solo, de 1992, na música “Beijo da Sorte”. A canção – letra e música de Roberto – é uma das composições claramente dedicadas a Rita Lee, sua paixão, dupla e musa inspiradora. O excelente álbum – que saiu na época pela Warner – chega agora às plataformas pela Universal Music Brasil e pode, finalmente, ser apreciado como se deve. À época, Rita & Roberto já haviam lançado nove discos como dupla, desde 1979. E foi justamente em busca do que ambos chamavam de “oxigenar” que decidiram, em comum acordo, tocar projetos separadamente.
“Mentiras”, a segunda música do disco, é uma pérola. “Dizem por aí/ que o amor é uma mentira/ Eu adoro mentiras/ Eu amo você”, canta Roberto em outra composição assinada apenas por ele. A música – uma das preferidas de Rita no trabalho – acabou sendo regravada pelos dois, com vocal de Rita e novamente como dupla, no disco 3001, em 2000. “O que você quer” é a outra da lista de preferidas de Rita – e que também foi regravada – essa, para “Santa Rita de Sampa” (1997). Na música, parceria com Arnaldo Antunes, Roberto canta: “O que você quer/ não perde no baralho/ Dinheiro não compra/ Conselhos não matam/ O tempo não toma/ o que você quer”. Uau! Acabou sendo escolhida para entrar na trilha sonora da novela “Despedida de Solteiro” (TV Globo, 1992).
A essa altura, faço um adendo aos ótimos vocais de Roberto, que combinam perfeitamente com a produção: roqueira, elegante, impecável. Roberto, além dos vocais, toca guitarra, teclados, violão e baixo. Entre excelentes músicos, o disco conta com a bateria marcante de Paulo Zinner. Com tamanha vocação para ser um estouro, o álbum acabou sendo atropelado pela difícil realidade política e econômica brasileira, na era do então presidente Fernando Collor. Lançado entre o desastroso plano Collor e bem próximo ao impeachment do ex-presidente, o disco não teve promoção. Nem sequer um clipe foi gravado – o que era praticamente uma exigência para os áureos tempos de MTV.
“Meu ABC”, de Roberto e Carlos Rennó, é uma farra deliciosa, com teclados new wave, sax, trompete e letra que mistura português, francês, inglês, espanhol. “Eterno agora”, a única em parceria com Rita, é um bálsamo melancólico. Misteriosa e poética. “Eterno agora/ Às vezes voa/ Às vezes demora”, canta Roberto com algumas notas de teclado que conversam com a também melancólica “Zona Zen”, do álbum do casal de 1988.
O rockão “Porta da perdição” e “Corações Kamikazes” vêm a seguir. Ambas, composições apenas de Roberto. A segunda tem uma intertextualidade com “Doce Vampiro” (1979), quando Roberto canta: “Quero beber você/ Eu te adoro”. “Cristais e Diamantes”, uma das preferidas do próprio Roberto, é linda, dramática e fala um pouco da época de incertezas que o casal vivia. “A gente não quis mudar/ É ímpar o que era par/ E agora o nosso beijo é de adeus/ E seja o que Deus quiser”, canta Roberto no vocal mais forte, dolorido e pessoal de todo o disco.
Já no fim do disco, em “Cinzas do Passado”, Roberto questiona: “Às vezes me pergunto/ se algum dia eu vou te perder”. A seguir, na bela “Tesouros”, ele mesmo parece responder: “No coração construí um palácio/ E a rainha do palácio é você/ Você, meu amor”.
Na época – em que os álbuns saíam em LP, k7 e CD – o compact disc vinha com um bônus: uma versão acústica de “Beijo da Sorte”, que também chega às plataformas com esse relançamento. Já era hora de (re)descobrir esse tesouro.
por *Guilherme Samora é jornalista, editor e estudioso do legado cultural de Rita Lee
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Com informações: www.universalmusic.com.br
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