Vitor Ramil lança “Avenida Angélica”, pela Natura Musica

Álbum inteiramente dedicado à poesia de Angélica Freitas publicada nos livros “Rilke Shake” e “Um útero é do tamanho de um punho”.

 

Ouça aqui:  http://vitorramil.hearnow.com/avenida-angelica

 

Vídeo do Show:   https://bit.ly/AvenidaAngelica

 

AVENIDA ANGÉLICA 

por Vitor Ramil

 

Godard falou que uma obra de arte tem que correr riscos, do contrário, não tem valor. Joni Mitchell, depois de queixar-se que errava muito ao piano, pois não entendia o instrumento, ouviu o seguinte conselho de um músico: “siga o erro”. Em outras palavras: aceite a contribuição do acaso, do imprevisto, desacomode-se incorporando o erro e a ele reagindo criativamente. Em Avenida Angélica, gravado em duas noites, 7 e 8 de agosto, de 2021, no canteiro das obras de restauro do histórico Theatro Sete de Abril, em Pelotas, realizado depois de vários adiamentos em função da pandemia de Covid-19, corri riscos e segui os “erros”. Não que isso já não fosse quase um hábito, do processo de composição às apresentações ao vivo, mas nunca as circunstâncias foram tão favoráveis.

 

Para o fim de semana anterior às gravações era esperado o maior frio de todos os tempos. Falava-se em 10º negativos para os “sobreviventes”, como dizia o Barão de Itararé, ao se referir ao moradores do Rio Grande do Sul. Achávamos que poderíamos sobreviver ao vírus, mas não éramos tão positivos quanto ao clima. Felizmente as previsões mostraram-se exageradas, o que não quer dizer que os dias de gravação tenham sido mais amistosos. Encaramos um frio não mortal e uma umidade poucas vezes vista nesta cidade famosa por ser úmida.

 

Originalmente aprovado no Natura Musical como espetáculo a ser apresentado em três capitais, Florianópolis, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o projeto teve de ser adaptado às contingências da pandemia, que não permitiam público presencial em shows. Antes da crise sanitária eu já estava trabalhando o repertório do show com um grupo de músicos, visando a realização de um álbum de estúdio. Diante da nova realidade, que não permitiria também a aglomeração em um estúdio de gravação, e que, principalmente, deixara toda a equipe técnica do show sem poder exercer suas atividades por um período indeterminado, optamos pela realização do show de uma maneira que todos os colaboradores pudessem trabalhar sem colocar suas vidas em risco.

 

A primeira ideia foi a da realização de uma live no Theatro Sete de Abril, a ser transmitida via Internet. O Sete de Abril é o terceiro teatro mais antigo do Brasil. Antes de ser fechado no ano de 2010 e entrar em sucessivas obras de restauro, era o teatro mais antigo em atividade ininterrupta do país. Sua importância e o significado da volta iminente ao centro da cidade e de sua vida cultural fizeram a ideia de uma simples live perder força, até porque mobilizaríamos muita gente para sua realização. Quisemos ir além. Decidimos filmar o show e o ambiente do teatro e apresentá-lo posteriormente. Também achamos que um álbum reunindo o repertório filmado deveria fazer parte dessa documentação. Seria isso: um documento, momento de nossas vidas e da volta à vida do velho teatro.

 

Avenida Angélica ganhou assim um caráter entre o emergencial, o afetivo e o celebratório. O artístico também, claro, afinal de contas eu estaria apresentando um repertório de canções compostas a partir de poemas de Angélica Freitas, admirada amiga e vizinha, depois de quase quinze anos de estreita colaboração, numa atmosfera cênica criada por Isabel Ramil que, além da luz sutil, continha “um velho ônibus” em cujos bancos de trás, a certa altura, eu ia batucar, e uma série de vídeos que eram como segundas leituras dos mesmos poemas que eu musicara. Que tudo acontecesse no modo guerrilla, como dizem os argentinos, conferia forte componente emocional ao trabalho.

 

Estando em meio às obras, o teatro não contava ainda com sistema de calefação e desumidificação. O jeito foi atuar por entre pisos e paredes de onde vertia água. Isso nos obrigou a abrir mão de alguns microfones que não suportaram o ambiente não controlado. A iluminação também precisou ser improvisada diante da falta do urdimento ainda não instalado sobre o palco. Uma dificuldade aqui, outra ali, boa parte delas já previstas, e gravamos dezessete canções em duas noites! Dezesseis inéditas, mais Stradivarius, que eu gravara em meu álbum mais recente, Campos Neutrais (2017). A acústica do teatro, antes mesmo do fim das obras, continuava a se mostrar excelente. Bela notícia. Gosto de estúdio, estou acostumado a gravar na calma. Mas essas duas noites foram de me desafiar, de experimentar, enfim, coisa que eu também adoro. Respirei água e embarquei na vertigem de gravar de olho no relógio e no ritmo das equipes de áudio, filmagem e do próprio teatro. A maioria das canções foi gravada em apenas um take, com eventuais reparos. Poucas foram tocadas duas vezes.

 

O distanciamento social imposto pela Covid-19 e os adiamentos fizeram com que a equipe e eu entrássemos num modo meio onírico e chegássemos na hora H tendo de decidir ou mesmo descobrir muitas coisas enquanto tudo acontecia. Foi guerrilla y aventura. E foi gratificante. Estávamos reencontrando a motivação e trabalhando depois de tanto medo e desesperança.

 

A poesia da Angélica foi fundamental para manter o astral de todos. Ela ainda participou do espetáculo com a leitura de um poema, Ítaca, gravado em vídeo em Berlim, onde vive. Leveza, humor, crítica, sofisticação, densidade, amorosidade, musicalidade. Com tais qualidades, seus versos encheram o teatro levados pelas melodias que compus para eles, e nos levaram juntos. Volta e meia caía a ficha do significado daquele momento: “Angélica e eu no Sete de Abril, uau; nós, que, temos tantas histórias de vida nesta cidade e nesta sala, assim como a Isabel, minha filha, com sua contribuição de artista visual e a Branca, minha irmã e produtora desde meu primeiro disco, Estrela, Estrela; nós, mais os craques Renato Falcão, a dirigir a filmagem, e André Colling e Lauro Maia, a capitanear as gravações de áudio, além dos amigos e profissionais altamente qualificados que nos acompanham há anos, todos aqui reunidos, em meio a este caos sanitário, social e político, a celebrar nossa amizade e a perseverar em nome da arte e da cultura”.

 

Assim aconteceu Avenida Angélica, numa atmosfera, para mim, onírica até hoje, quando lembro daqueles momentos. As sirenes das ambulâncias continuam a soar lá fora, o Brasil continua em situação delicada. Aqui dentro ainda soam as canções que gravamos. O poder de atração dos poemas da Angélica me levou a compor coisas que de outro modo nunca teria composto. Sou grato a ela por isso. Um dos versos diz: “a verdade é que quase tudo eu aprendi ouvindo as canções do rádio”. Fui tocado por essa verdade que não é minha. Compus muito durante a pandemia, para mais dois ou três álbuns (aliás, esclareçam a este pequeno agricultor: ainda existem álbuns no agronegócio da música?). Mas é bem possível que eu volte a gravar, em estúdio, algumas canções do Avenida Angélica. Elas me fazem bem. Espero que façam o mesmo a quem nos ouvir.  A ver o que nos reserva o futuro. Riscos assumidos e “erros” a serem seguidos, sem dúvida, estarão lá.

 

No mais, “alça voo a aventura na Avenida Angélica”!

 

ALGUMAS CANÇÕES COMENTADAS

por Angélica Freitas e Vitor Ramil

 

RILKE SHAKE

 

Vitor: Rilke Shake, que abre o álbum, encerra o show e o vídeo Avenida Angélica. Ao final da canção o que se ouve são os sinos da Catedral Metropolitana de Pelotas, que gravei com o celular ao perceber que tocavam no tom e no andamento da música. No espetáculo, a presença deles ao final ecoa o poema da Angélica apresentado na abertura por Isabel Ramil, em que é citada canção If I had a hammer, de Pete Seeger, cuja letra diz: “If a had a bell (…) I’d ring out love between my brothers and my sisters all over this land”. Ao final do túnel no vídeo da Isabel para Rilke Shake, seguindo sugestão do poema, adotamos o ponto de vista de um dervixe imaginário que dança e “vê” girar a seu redor o entorno da Praça da Matriz, em Montevideo. Curiosamente, as imagens processadas sugerem colunas de alguma igreja infinita.

 

A MINA DE OURO DE MINHA MÃE E MINHA TIA

 

Angélica: Essa é uma história real. Minha mãe nasceu na Colônia de Pescadores Z3, em Pelotas. Ela e uma irmã, Luci, tinham espírito empreendedor e iam vender cosméticos numa ilha na Lagoa dos Patos. As mulheres que lá viviam tinham pouco acesso a cosméticos – tudo que compravam vinha de Pelotas, a cidade mais próxima, mas era preciso empreender uma viagem de bote e depois de ônibus para chegar às lojas. Minha mãe contava que a ideia foi um sucesso. Elas ganharam bastante dinheiro, pelo menos para os parâmetros delas, mas parece que o mais importante ainda era a aventura. Adorava ouvir esses causos da juventude da minha mãe, e agora que ela não está mais aqui para contá-los, fico feliz por ter escrito esse poema.

 

Vitor: É uma das canções mais recentes do repertório, mas desde a primeira leitura deste poema eu soube que iria musicá-lo. Queria fazer uma canção leve e tocante. A história familiar da Angélica aqui contada me comove, e posso enxergar as locações pelotenses na luminosa Lagoa dos Patos: a colônia de pescadores Z-3 e a Ilha da Feitoria.

 

FAMÍLIA VENDE TUDO

 

Angélica: Quando morava em São Paulo, muitas vezes vi faixas pelas ruas com essa frase e um número de telefone. E me perguntava: o que aconteceria se uma família decidisse vender tudo mesmo? O poema foi um exercício de imaginação. Gosto muito de escrever a partir de coisas que encontro pela cidade e que me provocam, me tiram do automático. É também o caso do poema Sashimi: vi uma faixa anunciando um curso de sushiman, e a minha reação foi me perguntar por que era dirigido apenas a homens. Cheguei em casa e escrevi o poema.

 

Vitor: Foi composta na sequência de R.C., voltando de um show, a bordo de uma van, na estrada que liga Porto Alegre e Pelotas. Uma canção contundente, em especial para este momento que o país atravessa, mas sempre com o humor único da Angélica.

 

STRADIVARIUS

 

Angélica: Escrevi este poema a partir de outro, O grande desastre aéreo de ontem, do Jorge de Lima. Era uma proposta da oficina do poeta Carlito Azevedo, da qual participei no inverno de 2005. No poema original, sobre uma queda de avião, havia vários personagens, e precisávamos escolher um deles para dar-lhe voz. O eleito por mim foi o violinista. O título original do meu poema: O que passou pela cabeça do violinista em que a morte acentuou a palidez ao despenhar-se com sua cabeleira negra e seu stradivarius no grande desastre aéreo de ontem. Eu andava experimentando o quanto de fôlego cabia num verso.

 

Vitor: Gravei esta canção no álbum Campos Neutrais porque, à parte a presença da Angélica naquele trabalho ser muito significativa, musicalmente tinha muito a ver com aquele repertório.

 

R.C.

 

Angélica: Ouvi muito rádio na minha infância, principalmente na cozinha, com as empregadas que trabalharam lá em casa. Gostavam de música romântica, Amado Batista e Gilliard, principalmente. Também ouvia música no carro dos meus pais, sempre rádios AM. E aí era comum ouvir o Roberto Carlos. R.C. é uma singela homenagem àqueles tempos de formação sentimental.  Ah: o Vitor foi o primeiro leitor que entendeu de primeira o significado dessa abreviação.

 

Vitor: Foi irresistível compor para este poema uma música a la Roberto Carlos, brincar um pouco.

 

MULHER DE MALANDRO

 

Angélica: Um dos poemas da série “Mulher de”, do meu segundo livro, Um útero é do tamanho de um punho. A proposta da série é subverter algumas ideias já gastas. Por que a mulher do malandro não pode ser uma malandra também? Eu havia lido algumas coisas sobre o Henry Miller, sobre como ele pegava dinheiro dos amigos, nunca pagava de volta, nunca pagava por uma refeição… Sempre me fascinaram, esses artistas. Talvez porque eu nunca seria capaz de fazer algo parecido.

 

Vitor: Tipo um samba de breque. Nasceu assim, só melodia. É o mesmo caso de Versus eu e Bigodinho. Volta e meia musico poemas dessa forma, sem usar o instrumento. Já aconteceu com Gaudério, de João da Cunha Vargas, gravado no disco Ramilonga e Se eu fosse alguém, de Antonio Botto, gravado em Campos Neutrais, por exemplo.

 

COSMIC COSWIG MISSISSIPI

 

Vitor: Um bom exemplo do poder que a poesia da Angélica tem de me atrair para gêneros musicais em que nunca me aventurei, no caso, o blues. O Coswig do título refere-se ao Recanto dos Coswig, pousada e parque bucólico na zona da colônia alemã de Pelotas.

 

VIDA AÉREA

 

Vitor: Canção minimalista, violão com afinação preparada. Foi o primeiro poema da Angélica que musiquei, em 2008, um pouco depois de ter ganhado o primeiro livro dela de nosso editor comum na Cosac Naify, Augusto Massi. Não a conhecia antes disso, embora ela tivesse morado a uma quadra da minha casa em Pelotas durante muitos anos.

 

RINGUES POLIFÔNICOS

 

Vitor: A música vem firmemente ritmada até chegarem os “tênis alados e os paulistas voadores, portadores esvoaçados de baseados nas calças jeans”. Então tudo se esvoaça. Dos versos “alça voo a aventura na avenida angélica” extraí o nome do show e depois do álbum.

 

SIOBHAN

 

Vitor: Talvez seja minha canção favorita neste trabalho. Acho suas imagens tão poderosas que a canto “enxergando” tudo, de personagens imaginados a lugares reais como Hamburgo, onde estive para trabalhar em um livro. É um poema de amor poderoso e tocante. Espero ter correspondido a ele.

 

O show Vitor Ramil – Avenida Angélica foi gravado no canteiro das obras de restauro do Theatro Sete de Abril em Pelotas/RS, nos dias 7 e 8 de agosto de 2021.

 

Projeto financiado pelo Pró-Cultura RS – Secretaria de Estado da Cultura – Governo do Estado do Rio Grande do Sul com patrocínio do Natura Musical.

 

 

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Com informações PR | Natura Musical   /   Assessoria de Comunicação | Vitor Ramil –  Bebel Prates

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