Vinícius Duran une o samba à nova MPB com olhar renovado no álbum “Palavras Marginais”
Álbum tem participações de Adriana Moreira, Tata Alves e Henrique Araújo
Como quem atesta a importância de uma entrada triunfal no cenário da música brasileira, Vinícius Duran começa seu primeiro disco, “Palavras Marginais”, cantando no prólogo: “cheguei / eu estou aqui”. O cantor, compositor e multi instrumentista faz de seu primeiro trabalho solo uma importante declaração poética e de resistência da música de raiz, das tradições culturais brasileiras e das lutas diárias em busca de dignidade em um país em frangalhos. Eclipsando a sintonia com o Brasil musical e político de 2022 com um pé fincado nas escolas musicais que o inspiraram, Duran entrega um álbum que dialoga com a atual produção do samba alternativo paulistano, ao mesmo tempo que avança lírica e musicalmente a estética da sua geração.
Ouça “Palavras Marginais”: https://tratore.ffm.to/palavras_marginais
O lançamento vem na esteira dos bem-recebidos singles “Bandeira Vermelha”, “Moída” e “Pau-Brasil”. “Palavras Marginais” é uma obra plural, que representa a versatilidade de um artista que flerta com diversos ritmos e referências, mas que tem o samba como gênero matriz. Com produção de Renato Enoki e participações de Adriana Moreira, Tata Alves e Henrique Araújo, “Palavras Marginais” mistura o frescor das composições de Vinícius com a experiência de grandes artistas que o apoiaram na produção deste trabalho, como Júlio César e Allan Abbadia.
Assista ao clipe “Bandeira Vermelha”: https://youtu.be/WJTenAYBYgQ
A história do disco começa em 2020, quando Vinícius percebe que não consegue dar vazão a suas canções em seu projeto de samba, a Fiat Lux. Enquanto começava a organizar um repertório, com canções novas e antigas, recebeu um convite de Adriana Moreira para apresentar alguma música na “Sala da Moreira”, a live semanal da cantora. Ele apresentou “Bandeira Vermelha” e ela ficou comovida. Foi então que Adriana o provocou a entrar em estúdio para gravar aquele samba, e o que era para ser um single, vira um disco.
Faixa-a-faixa:
Prólogo
Esta é a única faixa do disco criada especialmente para este projeto. Como o próprio nome sugere, ela é uma abertura do álbum, um pequeno resumo das ideias que se apresentarão a seguir. Os arranjos reforçam a identidade do artista, com uma batucada tradicional, feita especialmente em instrumentos de metal e couro, e um riff de guitarra distorcida que traz alguma modernidade à canção.
Moída
Essa canção, composta em 2017 como um samba-rock meio bossa, tornou-se um samba-reggae após o compositor assistir ao documentário “Axé – o canto de um povo”. A mistura valeu a pena e criou um contraste entre a poética paulistana, que fala sobre a rotina na cidade, citando até o icônico Edifício Copan, e o ritmo tipicamente baiano do Olodum. Outro contraponto interessante dessa música na audição do álbum completo, é que ela fala sobre uma vida no centro da cidade, enquanto a canção seguinte fala sobre as periferias, criando um movimento, não só rítmico, mas também retórico.
Viela e Palafita
A protagonista é um projétil que voa mais uma vez pelas quebradas das grandes cidades do Brasil, e que como qualquer outra “bala-perdida”, foi pra reta de sempre. A bala na canção não tem dono, sabe-se-lá se é da polícia ou do tráfico, da milícia ou de um assalto qualquer. A denúncia não é sobre um ou outro agente, mas sobre esse campo de guerra em que vivem tantos brasileiros e brasileiras, e sobre o pouco caso que fazemos disso enquanto sociedade. Sonoramente as referências de arranjo e composição são de artistas como João Bosco e Douglas Germano.
Bandeira Vermelha
Esse samba, de lamento e revolta, foi escrito após o assassinato do músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo. A canção é um recado aos soldados, que por tantas vezes viram algozes do nosso povo marginalizado, e também a todos aqueles cidadãos brasileiros que apoiam medidas truculentas que resultam no derramamento de sangue de tantos trabalhadores, trabalhadoras, idosos e crianças inocentes. Nessa faixa, há participação especial de Adriana Moreira.
Naufrágio
Uma das composições mais recentes do disco, “Naufrágio” conta a história de um catador de materiais recicláveis que, após sentir-se traído por Pamela, uma prostituta, resolve fugir. As metáforas são muitas e o final dá margem a interpretação. Os arranjos são mais pesados do que no restante do disco, com guitarras distorcidas e um trecho surpreendente que mistura uma levada de drum & bass com maracatu rural.
Promessas Distraídas
Essa é uma parceria de Vinícius com Nico Antônio, amigo e parceiro mais frequente do cantor. Vindo como um contraponto ao peso e a violência das canções anteriores, essa é uma modinha sutil e melancólica. Um devaneio em meio a solidão que nos impôs a pandemia, uma saudade. No disco há participação de Henrique Araújo no bandolim.
Meu Canto
Este é mais um samba tradicional do disco e foi composto após o primeiro ano de Vinícius no Samba da Vela, reduto de bambas da zona sul de São Paulo. É uma canção de resistência contra as inúmeras tentativas de silenciamento da arte e da cultura em nosso país. Essa ideia está sintetizada num dos versos mais emblemáticos da música: “canto que é para calar quem quer calar meu canto”.
Pau-Brasil
“Pau-Brasil” é um xote feito pra dançar agarradinho. Com melodia leve e arranjo surpreendente, que leva a canção de um forrozinho bem brasileiro para um reggae repleto de arranjos de metais, o autor passa por temas difíceis da realidade de seu povo, como a fome e a ascensão de um líder espúrio ao poder. Os versos de temática ácida preparam o terreno para um refrão de esperança e luta, onde o compositor indica esse próprio povo sofrido como a chave para a mudança dos destinos da nação.
Voltar
Uma das canções mais enérgicas do disco, este é um ijexá acelerado que ganha um tempero latino com o solo livre de trompete de Marco Stoppa. A letra é forte e combativa, e fala sobre os homens e mulheres que representaram ideias revolucionárias de seu tempo, e que por isso foram perseguidos, açoitados e mortos pelas forças dominantes.
Palavras Marginais
O samba que dá nome ao disco é uma canção de esperança. Junto com “Bandeira Vermelha” e “Meu Canto”, ela forma o trio de sambas mais tradicionais do álbum. Com letra curta e subjetiva, que se repete quase como um mantra, “Palavras Marginais” sintetiza as ideias que o compositor apresenta neste trabalho. Este samba também está presente no caderno de sambas de 2019 do Samba da Vela, ano em que Vinícius passou a frequentar a comunidade.
Conheça o artista:
Vinícius Duran dá os primeiros passos de sua carreira solo após uma vida inteira dedicada à música. Os sons da zona leste de São Paulo, onde cresceu, povoam seu imaginário, indo da MPB ao samba. Na adolescência, conheceu o rock, aprendeu a tocar violão e passou a integrar a banda de pop rock Atomix. Depois de um hiato da música, que o levou à faculdade de Rádio e TV e a fundar a Rústica Produções, voltou a atuar como instrumentista com um repertório misto de autorais e releituras.
Em seguida, passou a frequentar a Ala de Compositores do Kolombolo e a Comunidade do Samba da Vela, reconhecidos celeiros de compositores da capital paulista. Em 2018 fundou Fiat Lux, grupo de samba e pesquisa que busca defender músicas e compositores que não tiveram o devido reconhecimento pela indústria mainstream. Com repertório que inclui nomes como Talismã, B. Lobo, Toinho Melodia e Douglas Germano, o grupo teve em 2019 uma pequena turnê de apresentações em Salvador, na Bahia, onde tocou em lugares icônicos, como a Casa de Mãe.
Como compositor, Vinícius Duran teve “Filho”, uma parceria com o amigo Nico Antônio, selecionada para o Festival Musicanto, em 2018. A música foi defendida pelo grupo Nico Antônio e os Filhos do Mar, que posteriormente a incluiu no repertório do disco “O Paquiderme”, lançado em 2021.
Agora, “Palavras Marginais” abre caminho para uma trajetória já rica, mas com um novo capítulo, onde diversas tradições musicais brasileiras se encontram e recombinam para formar algo novo. O disco já está disponível nas principais plataformas de música.
Ficha técnica
Músicos:
Vinícius Duran: violão e voz.
Flora Poppovic: coro.
Marina Siqueira: coro.
Tata Alves: coro.
Cadu Ribeiro: coro.
Gregory Andreas: coro e cavaco.
Renato Enoki: Arranjos, violão, violão 7 cordas, guitarra e contrabaixo.
Júlio César: Percussão geral.
Allison Lima: Percussão geral.
Cláudio Oliveira: Bateria.
Allan Abbadia: Trombone.
Marco Stoppa: Trompete.
Walter Pinheiro: Saxofone.
Pablo Moura: Sanfona.
Gabriel Ornellas: coro em “Meu Canto”.
Ananza Macedo: coro em “Meu Canto”.
Participações especiais:
Adriana Moreira em “Bandeira Vermelha”
Tata Alves em “Pau-Brasil”
Henrique Araújo em “Promessas Distraídas”
Técnica:
Gravação banda base: Ricardo Martins (Estúdio Sambatá).
Gravação coberturas: Guilherme Lacerda (Biriguibam).
Edição e Mixagem: Pedro Romão.
Masterização: Maurício Gargel.
Arte da Capa: Løpz
Audiovisual: Cinese Filmes
Imprensa: Build Up Media
Com informações: BUILD UP MEDIA