Chico Alves lança álbum com Moacyr Luz e outros convidados

Ouça o álbum: https://orcd.co/paranaue

 

 

Ainda ausente nos dicionários da língua portuguesa, a expressão “paranauê” é assídua nas rodas de capoeira Brasil afora. Dizem que vem do tupi, juntando “paraná”, que designa rios tão vastos que parecem o mar, e “auê”, um tipo de reverência. No linguajar de nossos dias, “paranauê” também é gíria que quer dizer “coisa” ou “assunto”. “Só seu jeito de ser sabe os ‘paranauê’ desse meu coração”, diz a letra de uma das canções do novo álbum de Chico Alves (edição digital e física).

 

Evocação à prática que mistura ginga, dança e luta — a capoeira, manifestação tão brasileira. Mas também aos rios que serpeiam, enormes como o mar, arrastando influências e memórias várias. E, ainda, vocábulo que emerge, zombeteiro, como símbolo das errâncias e indefinições do contemporâneo: “paranauês” que balançam nas marés de um presente em que faltam nomes para situar a turbulência dos dias. É esse mix de referências e ritmos, esse caudal de brasilidades e tempos múltiplos que alimenta Paranauê, o disco.

 

Todas as suas 13 canções foram compostas por Chico Alves, em parceria com nomes como Toninho Nascimento, Toninho Geraes, Moacyr Luz e Pedro Messina. Em seu conjunto, reafirmam sua singularidade como artista que mescla a verve de compositor à de cantor popular. Um músico que alia sofisticação à habilidade adquirida em anos à frente de rodas de samba — o gingar entre os muitos ritmos do cancioneiro nacional.

 

Não à toa, Paranauê é álbum que conta com a participação de nomes tão diversos quanto Moacyr Luz e Zé Renato, Toninho Geraes e Alice Passos, Moyseis Marques e Marcelle Motta. Que apresenta uma canção inédita de Wilson das Neves (Ilusão Perdida, samba de irresistível levada jazzística, feito em parceria também com Toninho Geraes). Que traz nova gravação de Sonho Estranho, música de protesto que virou hit na interpretação do Samba do Trabalhador. Que tece seu repertório ziguezagueando por dores da paixão e saudades, mas também por temáticas que lançam luz ao Brasil de Marias Padilhas e Ogum, de batuquejês e cordéis, de gandaias e fuzuês.

 

E que passeia por ritmos tão diversos quanto afro samba — caso de Dor de amor, parceria com Toninho Nascimento e Toninho Geraes —, baião — Baião do Zé Limeira, composto com Pedro Messina, e gravado com a participação de Alice Passos — e maxixe — Paranauê do Coração, com Toninho Geraes, tanto na composição quanto na gravação.

 

Mas o samba, ritmo que é talvez a principal faceta de Chico Alves como intérprete, também está muito presente neste novo trabalho. O que marca uma diferença com relação a Pra Yayá Rodar a Saia, seu primeiro disco solo, de 2017, indicado ao Prêmio da Música Brasileira na categoria “regionais”. “No CD anterior era muito marcante a influência da música do Recônvaco Baiano. Em Paranauê, eu me reaproximo do samba, ao mesmo tempo em que celebro a força das parcerias que têm marcado minha trajetória”, descreve o cantor e compositor capixaba.

 

Enquanto se reaproxima do samba, Chico Alves consolida uma marca própria no cenário musical contemporâneo. Suas letras, não raro, desvelam um olhar de cronista. Cronista atento não apenas à delicadeza e à exuberância da vida, mas às contradições, tensões e violências de nossa cultura. Como afirma o historiador Luiz Antonio Simas: “A ousadia de lançar um disco centrado em parcerias e canções inéditas (…) reforça ainda um caráter político do trabalho de Chico. A fuga da acomodação e do sucesso fácil no colo de um repertório consagrado, e o diálogo com a tradição a partir daquilo que ela tem de melhor: a capacidade de beber na fonte do passado.”

 

CHICO ALVES

 

Chico Alves nasceu em Fundão, região metropolitana de Vitória (ES), em 1968. Despontou nas rodas de samba de Niterói e do Rio no começo da década de 2000. Integrou o grupo de samba e choro Unha de Gato, com quem gravou o CD Festa Pro Povo (2008). Com o melodista e violonista Marco Pinheiro lançou o álbum Amigos e Parceiros (2009). Também foi integrante do Sambalangandã, grupo que durante sete anos manteve uma roda de samba antológica no Mercado das Pulgas, em Santa Teresa, e com quem gravou Fuzuê (2012). Seu primeiro disco solo, Pra Yayá Rodar a Saia, de 2017, foi indicado ao Prêmio da Música Brasileira na categoria “regionais”.  É autor de dezenas de músicas, em parcerias com compositores como Toninho Geraes, Moacyr Luz, Wilson das Neves, Toninho Nascimento e Moyseis Marques. Foi gravado por Leila Pinheiro, Guinga, Áurea Martins, Moacyr Luz, Toninho Geraes e Quarteto em Cy, entre outros. Assina, com Cláudio Russo e Julio Alves, o samba enredo da Vila Isabel para o Carnaval 2020.

 

Por Juliana Krapp

 

Assessoria Biscoito Fino: Coringa Comunicação

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